Os recifes de coral são uns dos principais ecossistemas marinhos, servindo de abrigo, berçário e provendo alimento para diversas espécies marinhas, além de prover bens para sociedade em forma de turismo, biotecnologia e subsistência. Esses ecossistemas cobrem apenas cerca de 0,2% das áreas marinhas, porém abrigam em torno de um terço de todas as espécies marinhas descritas, sendo comparados a florestas tropicais em termo de biodiversidade.
Apesar de sua importância, os recifes de coral veem sendo impactados por diversos estressores locais e globais, sendo o aumento da temperatura dos oceanos, como consequência das mudanças climáticas, um dos mais relevantes. Especialistas estimam (através dos relatórios de mudanças climáticas do Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) que a temperatura do planeta pode aumentar cerca de 1,5°C nas próximas décadas, tornando eventos de temperatura extrema cada vez mais comuns, severos e duradouros em todo o mundo. Os corais, diferentes dos humanos, não conseguem regular sua temperatura e ao ficarem expostos a esse estresse sofrem disbiose, desencadeando o branqueamento (perda da alga foto-simbiótica que provê cerca de 90% de nutrientes para o coral) e mortalidade.
Nesse contexto, intervenções biotecnológicas para proteção, preservação e recuperação de ambientes coralíneos vem sendo desenvolvidas e aplicadas no campo. Os corais são animais invertebrados que vivem em associação com uma vasta comunidade microbiana composta por representantes de bactérias, arquéias, protozoários, fungos e vírus. Os microrganismos, mais especificamente os procariotos, desempenham funções fundamentais para a saúde e manutenção do coral hospedeiro, tais como fixação de nitrogênio, ciclagem de enxofre, eliminação de espécies reativas de oxigênio e produção de antimicrobianos contra patógenos. Dessa forma a manipulação de Microrganismos Benéficos para Corais (BMCs) que naturalmente vivem em associação com os corais, vem se mostrado uma estratégia biotecnológica não invasiva e com potencial na proteção e recuperação dos recifes de coral frente aos efeitos das mudanças climáticas.
O campo dos probióticos para os corais foi conceptualizado pela Prof. Raquel Peixoto, aqui no Brasil. Durante meu doutorado desenvolvi parte importante dessa pesquisa, demonstrando pela primeira vez que os probióticos para corais não só protegem contra o branqueamento, mas também evitam mortalidade. Atualmente, atuo como pós-doutoranda no desenvolvendo pesquisa na área de probióticos para corais num laboratório desenvolvido embaixo d’água chamado Vila dos Probióticos para Corais (Coral Probiotic Village – CPV) localizado no Mar Vermelho, na King Abdullah University of Science and Technology (KAUST), Arabia Saudita. A CPV é liderada pela Profa. Raquel Peixoto e vem sendo usada como modelo de pesquisa no mundo todo por testar o uso de probióticos para corais in-situ, com condições realistas e em grande escala.
A pesquisa liderada por esse grupo em probióticos para corais, vem ganhando diversos prêmios internacionais e destaques na mídia e no meio científico, trazendo esperança para garantir um futuro com corais saudáveis.
Marine Microbiology Laboratory in Kaust
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Por Erika Santoro, egressa do PBV